Há alguns dias, duas estrelas novas da Seleção Americana, Torri Huske e Claire Curzan da Universidade de Stanford anunciaram que vão tirar um ano de “Red Shirt” para se dedicar a preparação olímpica de Paris 2024. Hoje foi outra grande estrela, agora do time masculino, Carson Foster da Universidade do Texas que abriu mão das suas duas últimas temporadas de elegibilidade para se tornar nadador profissional.

Porque as duas optaram pelo Red Shirt e porque Foster se tornou profissional se a nova regra NIL (Name, Image e Likeness) permite que os atletas ganhem dinheiro? Qual a diferença dos dois? Abaixo apresentamos um pouco os detalhes para entender melhor o esporte universitário americano no NCAA.

Primeiro apresentamos os conceitos:

RED SHIRT
Embora o termo não seja reconhecido pelo NCAA, é amplamente utilizado por todos os esportes. Representa o afastamento de um ano da elegibilidade dos atletas-estudantes sem a perda da oportunidade de continuar estudando, treinando e até recebendo sua bolsa. Os atletas-estudantes tem direito a cinco anos de elegibilidade sendo que apenas quatro anos de competição, com exceção dos que perderam a temporada da Pandemia em 2020 que ganharam o direito ao quinto ano. O Red Shirt também pode ser utilizado (em grande escala) para a preparação olímpica, o caso das duas nadadoras de Stanford, e muitas vezes lesões. Outra opção é quando o atleta-estudante tem problemas acadêmicos e precisa de uma temporada para se dedicar mais aos estudos e melhorar suas notas.

NIL
Name, Image and Likeness, é a forma que o NCAA se rendeu ao “profissionalismo” dos atletas-estudantes desde a temporada passada. A ideia foi dar a oportunidade aos próprios atletas de buscarem seus patrocinadores inclusive podendo até ter agentes. A Universidade, e seu staff, não pode de forma alguma estar envolvida neste processo. O impacto na natação foi pequeno, mas permitiu a assinatura de contratos com empresas, além de realizações de apresentações, clínicas, coisas que antes eram proibidas. Os maiores beneficiados foram os atletas estrangeiros que não precisam mais “esconder” seus recebimentos em seus respectivos países.

PROFISSIONALISMO
O NCAA ainda não permite o atleta profissional quer receba pelo esporte que pratica, e nem que dispute alguma competição profissional. Por exemplo, mesmo sendo atleta amador, você não pode disputar a Liga ISL, ou algo similar. As premiações de competição entram numa esfera discutível e o atleta precisa provar que o dinheiro vai ser aplicado em seus custos pessoais com treinamento entre outras coisas. Todas as universidades possuem um departamento que cuida destes processos e antes de qualquer patrocínio ou oportunidade a orientação é sempre contactar a sua instituição para o correto procedimento.

Agora vamos aos casos dos atletas especificamente:

TORRI HUSKE & CLAIRE CURZAN
Duas das maiores estrelas da natação americana nas últimas temporadas, já brilhavam nas categorias menores e explodiram desde o time olímpico de Tóquio 2020 onde as duas eram as representantes das provas de 100 metros borboleta. Torri é mais velha, 20 anos, tem a prata do 4×100 medley olímpico, além de seis medalhas no Mundial de Budapeste no ano passado e esteve nos dois últimos Mundiais de Curta. Claire, tem 18 anos, também prata no 4×100 medley nadando na eliminatória, tem cinco medalhas no Mundial de Budapeste do ano passado e presente nos dois últimos Mundiais de Curta.

Torri e Claire são as duas maiores pontuadoras da equipe de Stanford. As duas combinadas representam 101 dos 183 pontos individuais de Stanford e seu 3o lugar no geral do NCAA. Perder as duas de uma vez vai ser duro, mas tem um preço. É a oportunidade de Red Shirt, com as duas seguindo estudando (e treinando) em Stanford, mantendo suas bolsas e sob a orientação de Greg Meehan na preparação olímpica para Paris.

Ao final da Olimpíada, em agosto de 2024, as duas retomam sua carreira para mais dois anos de elegibilidade de Torri e mais três para Claire.

CARSON FOSTER
Carson tem apenas um “bom” patrocinador. Faz parte do Time Mizuno e recentemente renovou até o final de 2024. Ele poderia seguir como atleta universitário, e seguir ganhando seus rendimentos adicionais pelo programa do NIL, mas a decisão de abrir mão dos dois anos de elegibilidade tem muito mais a ver com o programa de treinamento do que propriamente a possibilidade profissional que possa aparecer nesta decisão.

Carson diz que ao abrir mão das duas temporadas que teria direito no Texas ele poderá focar exclusivamente no seu treinamento, especialmente em competições em piscina de 50 metros, numa temporada mais longa. Segundo ele, coisa que ele nunca fez, afinal, antes de chegar a Universidade, Carson era atleta em Ohio e também tinha suas temporadas e competições em jardas.

Agora o foco é total, piscina de 50 metros. Carson também já anunciou que fica no Texas, segue estudando e treina com o grupo profissional onde estão Shane Casas, Will Licon e até seu irmão mais velho Jake Foster.

Embora nunca tenha sido campeão do NCAA, Carson era um dos maiores pontuadores da equipe do Texas. Integrante do time campeão do NCAA em 2021, Carson chegou perto, mas não conseguiu vaga no time olímpico. Sua estreia na Seleção Principal foi no Mundial de Curta em Abu Dhabi e no ano passado foi duas vezes prata nos 200 e 400 medley no Mundial de Budapeste.