Errar uma vez é humano, persistir no erro é burrice.

Isso é velho, mas vale, e vale muito. Assim como planejamento não é a garantia de que vai dar certo, apenas incrementa a chance do sucesso.

Estamos a 35 dias da Seletiva Olímpica do Brasil e os critérios da convocação da Seleção Brasileira para Paris já sofreram uma considerável revisão após a definição da classificação dos cinco revezamentos para os Jogos. Por incrível que pareça, os critérios da World Aquatics para Paris 2024 nos dão cinco revezamentos, mas ainda precisamos fazer índices e contas para montar o time.

A própria World Aquatics também faz, e fez ajustes nos critérios olímpicos, muitas vezes uma melhor redação, uma adição de critério ou coisa parecida.

Na semana passada, o Japão fez a sua Seletiva Olímpica, o primeiro país das grandes forças da natação mundial a definir sua equipe. Com fortes índices, mais fortes do que as marcas A da World Aquatics, os japoneses convocaram 19 nadadores pelos critérios, mas adicionaram mais oito pelos revezamentos. Estes nadadores adicionais, vieram como forma de ajuste.

Amanhã, em Londres, começa a Seletiva Britânica. Assim como os japoneses, os índices são mais fortes, não tão fortes, mas abaixo do que as marcas exigidas da World Aquatics. Como critérios dos britânicos tem alguns detalhes interessantes como o tamanho máximo da equipe 30 nadadores, convocação automática de apenas do vencedor da prova desde que alcance os índices britânicos. Os segundos colocados nas provas, mesmo que façam os índices, ainda ficarão com vagas a serem confirmadas após a formatação dos revezamentos e sempre respeitando o total de 30 atletas. Tem um critério adicional no regulamento que aponta que os critérios poderão ser alterados se o diretor técnico da Aquatics GB (Chris Spice) e o Head Coach (Bill Furniss) entenderem que o time pode ser “melhorado”. Ou seja, pode mudar tudo. Aliás, como já foi modificado o regulamento na convocação da equipe britânica que foi ao último Mundial.

Quebra de regulamentos e critérios não é coisa nova, muito menos exclusiva nossa. Não se pode esquecer que o Brasil “rasgou o regulamento” na convocação de todos os revezamentos para o Mundial de Fukuoka do ano passado. E, no final das contas, foi a melhor coisa que poderia ter feito. Os resultados comprovaram que a decisão foi acertadíssima.

Historicamente, os italianos são os campeões nestas “quebras”. Quase sempre nomes adicionais são incluídos nos momentos finais e sempre fortalecendo as seleções para os principais campeonatos. Até mesmo a Austrália viveu um drama gigante com a “escapada” na prova dos 400 livre da Seletiva Olímpica de Atenas 2004. Quem consegue esquecer Ian Thorpe balançando e caindo do bloco ficando de fora da prova. Ou melhor, Craig Stevens “voluntariamente” saiu dos 400 livre e deu a vaga para Thorpe afim de “focar na sua prova principal”, os 1500 livre. Oficialmente ninguém fala, mas Stevens ganhou uma boa, mas muito boa premiação pela decisão. E os australianos tiveram um ouro a mais, afinal Thorpe ganhou a prova em Atenas.

Não pense que os americanos também escapam desta quebra de critérios. Sim, até mesmo eles precisam “rever e ajustar”. Na última Seletiva Olímpica Americana, o time que seria apurado para Tóquio 2020 teve apenas um nadador conseguindo o índice olímpico A para a prova dos 400 livre masculino. Dois dias depois, uma “tomada de tempo”, isso mesmo, Jake Mitchell, segundo colocado na prova dos 400 nadou sozinho e baixou dos seus 3:48.17 para 3:45.86 abaixo do índice A 3:46.78. Mitchell na equipe olímpica!

Não acho que devemos começar qualquer coisa já pensando que vai dar errado, não é este o ponto, mas precisamos estar prontos para revisar, reconhecer, ajustar e sempre pensando no melhor. No caso, a natação.

Desde a Seletiva Olímpico Tóquio 2020 a CBDA incluiu um novo critério em TODOS os seus regulamentos. O critério basicamente diz que a CBDA, através da sua diretoria, e na defesa dos interesses da equipe, pode alterar, ajustar, convocar ou seja o que for necessário para deixar a equipe melhor. Tecnicamente, por conta deste critério, a convocação de todos os revezamentos do Mundial de Fukuoka não quebrou nenhum regulamento, pois foi baseado neste critério que a mudança foi feita.

Lembro bem quando da formulação do critério para a Seletiva Olímpica Tóquio 2020 foi criado. A intenção era, e sempre foi, “um artigo que não é para ser usado, mas se precisar…”. Ninguém pode prever algo extraordinário, algo que possa acontecer entre eliminatória e final, ou qualquer outra coisa que não esteja previsto, mas possa afetar a convocação da equipe.

O famoso critério agora tem a letra G:

G) CASOS OMISSOS E ESPECIAIS:
A Diretoria da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos será́ responsável pela
resolução, interpretação e decisões em casos omissos referentes a estes critérios de
convocação, podendo ainda, em casos especiais e de extrema relevância, promover
convocações sem que o referido atleta tenha alcançado todos dos critérios descritos, ou ainda
eventuais alterações a esse presente critério, buscando sempre o melhor para a natação
brasileira, e chancelando as decisões finais também com o Comitê̂Olímpico do Brasil.

Que tudo corra bem, perfeito, muita gente pegue seus índices, consigamos montar um super time e não seja preciso usar o tal Artigo G que foi criado para isso, para nunca ser usado.

Coach Alex Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.