Você já deve ter lido este editorial em anos anteriores, é verdade, mas eu nunca me canso de escrever sobre isso. Pior, me dói ter de escrever sobre isso. Tem gente vai achar bobagem e vida que segue, mas sinto muito por esta época do ano.
O Brasil tem um dos melhores (e piores) sistemas clubísticos de natação do mundo. São poucos (ou nenhum) lugar do mundo onde ser campeão por clubes, disputar uma boa posição de destaque e rivalidades entre clubes tenham tanta relevância. É impressionante como isso está enraizado e faz parte de nossa cultura esportiva.
Entretanto, como tudo na vida, tem suas coisas positivas, e são muitas, tem também suas dificuldades. E o “Natal da depressão” faz parte disso ainda mais em postagens melancólicas que as redes sociais nos trazem.
Aposentadorias? Fazem parte, tudo tem início, meio e fim. Embora a gente sinta, faz parte.
Demissões? Fazem parte também, profissionais são contratados e incumbidos de missões que por muitas vezes não saem de acordo como planejado, e, como em qualquer emprego, somos sujeitos a cortes, seja por questões financeiras, mudanças de estratégia ou até ineficiência profissional. Faz parte!
As contratações e dispensas de atletas, no Brasil parece que entrou neste mesmo escopo de “faz parte”, mas está aí a parte que me incomoda. E muito!
Recrutamento é algo que existe em qualquer esporte, clubes e treinadores querem reforçar suas equipes e saem em busca de montar a melhor equipe possível. Alguns com mais, outros com menos recursos e condições, todos no interesse de ter adições a sua equipe.
Atletas trocando de clubes e treinadores acontece no mundo inteiro, por 500 reais a mais, nem tanto. Isso é nossa exclusividade.
Já escrevi sobre isso e quando falamos sobre o tema só lembramos quando o clube grande traz um atleta do clube pequeno, mas parece que esquecemos que os clubes pequenos também recebem e convidam atletas das escolinhas ou colégios. Eu entendo, aceito e até acho que o processo de recrutamento “faz parte”.
O que, para mim pelo menos, não faz parte, são as dispensas. Elas são duras, e muitas vezes irreversíveis, falo diretamente de aposentadorias precoces. Falo de atletas que deixaram suas casas, suas cidades, ou estados, em busca de sonhos, que por muitas vezes são interrompidos pela ausência de resultados ou a falta de adaptação.
As contratações existem, não possuem qualquer tipo de regra, nem respeito (que feio). Atletas são convidados em competições, em viagens da seleção brasileira, e tudo a céu aberto, sem qualquer restrição. Como não há regras, não é ilegal.Seria imoral?
Se contratações chegam, outros podem ou devem sair, aí vem as dispensas. E como é mandar um atleta embora? Simples, você veio, teve a chance, não rendeu, obrigado e boa sorte. Não há muito que dizer, a não ser: boa sorte.
Preciso ser sincero que ainda não consegui encontrar qual seria o modelo ideal, ou que fosse menos doloroso para os jovens atletas e suas famílias nestas dispensas. Como citei acima, sem ter uma solução ou ideia plausível de qual seria a solução não posso deixar de expressar pelo menos a minha tristeza.
Também faço questão de mencionar que no sistema universitário americano, onde recrutamentos são todos controlados com regras rígidas e bem definidas. Punições para isso podem até suspender uma equipe inteira por temporadas em caso de violação.
Os atletas chegam as universidades americaxnas assinam um contrato, que embora tenha validade pela bolsa de um ano, só são cancelados ou revogados caso o atleta tenha algum problema de notas, o que afetaria a sua elegibilidade de atleta-estudante, ou problema disciplinar ou algo mais sério. Como são quatro anos de elegibilidade universitária, ninguém será mandado de volta para casa por causa de lesão ou resultados ruins. É a estabilidade que eu sonho para a nossa natação.
Enquanto isso não, vai ter gente celebrando as trocas explosivas da natação brasileira e ninguém comenta ou sente as tristes dispensas de todas as temporadas.
Alex Pussieldi, editor chefe da Best Swimming.