Não sou eu que está dizendo, mas o fundador, o dono de tudo, Aaron D’Souza, fez questão de mencionar isso no lançamento mundial do evento em Las Vegas. Mas não pense você que farei uma crítica velada ao evento (ou ação), tipo “imoral, absurda”, não é nada disso, o Enhanced Games é uma iniciativa comercial, apenas isso.
Aaron D’Souza, é um bilionário australiano, que se juntou com outros bilionários, e com empresas do ramo farmacêutico ainda mais bilionárias e criou uma ideia, a ideia de fazer a população ter uma saúde melhor, turbinada em tratamentos e drogas que estão no mercado, e segundo eles, restrita aos milionários. O esporte e os Enhnaced Games, são apenas o meio de mostrar isso ou apresentar a todos.
“This is Health and Science, not a Sport, we are not a competition” foi bem claro no que disse Aaron D’Souza na sua apresentação. Até porque um evento que permite, e até libera o uso de substâncias proibidas pela lista da WADA é crime nos Estados Unidos. A lei Rodchenkov Act, assinada por Donald Trump em Dezembro de 2020, pode levar uma pessoa até a prisão por 10 anos e multas que chegariam a 1 milhão de dólares pelo uso destas substâncias.
Mas o Enhanced Games não tem nada a ver com isso. Não é uma competição esportiva, talvez evento esportivo, ou uma grande ação de marketing. Atletas participantes são convidados, sabem das regras, ou não regras. A primeira edição já tem data, Maio de 2026, Las Vegas, natação, atletismo e levantamento de peso no cardápio inicial.
Será um evento diferente, piscina com quatro raias, pista de atletismo com seis linhas e uma arena toda modificada para o levantamento de peso, um show. O investimento é grande, gigante, e as oportunidades também.
A intenção inicial era fazer do australiano James Magnussen o “homem mais rápido da história” na piscina, afinal foi através dele que escutamos pela primeira vez do movimento Enhanced Games. Magnussen saiu de um período de sete anos de aposentadoria e encarou o desafio de “quebrar o recorde mundial” dos 50m livre por um milhão de dólares.
Era Fevereiro de 2024, quando Magnussen explodiu na mídia australiana prometendo a volta e a busca do recorde e do prêmio de 1 milhão de dólares. O objetivo: “quebrar o recorde mundial”!
Aqui está talvez a minha única reclamação para tudo isso. Ninguém quebrou o recorde mundial dos 50m livre de Cesar Cielo, e o grego Kristian Gkolomeev está longe de conseguir isso. Nenhum ser humano sensato poderia aceitar, ou acreditar, que alguém que fez uso de substâncias proibidas pela WADA e nadou com um traje banido desde 2009 poderia ser considerado recordista mundial ou o nadador mais rápido da história. Isso é ofensivo e desrespeitoso para atletas que fizeram por merecer mais reconhecimento. Cesar Cielo segue, por 16 anos, e contando, o dono destas expreessões valiosas e que devem ser apreciadas e reconhecidas.
Magnussen recebeu o suporte total, fez o tratamento de quatro meses de avaliações médicas, suplementações e ingestão de substâncias controladas. Seu resultado nos 50m nado livre na tomada de tempo em Fevereiro deste ano, em Greensboro, na Carolina do Norte, Estados Unidos, foi patético. Nadando com um traje proibido Jaked ele nadou para 22.73, isso é mais de um segundo acima do seu melhor da Copa do Mundo de 2013: 21.52!
O resultado (muito ruim) de Magnussen também provou outro aspecto sobre esta suplementação de substâncias proibidas: o doping não resolve tudo! Magnussen estava grande, gigante, 114 quilos conforme ele mesmo declarou. Duro e pesado, o planejamento e protocolo deu errado, muito errado.
Outro nome que ali estava, não era para ser o protagonista, mas foi. O grego (búlgaro de nascimento) Kristian Gkolomeev ganhou todas as glórias ao nadar os 50m livre também usando um Jaked versão 2009 para 20.89, dois centesimos abaixo do tempo recorde mundial.
A história toda é contada num belo documentário, “The 50 meters to history”, pouco emotivo, mas bem informativo de todo este projeto. Gkolomeev tem uma história pessoal de muita superação. Perdeu sua mãe no nascimento e perdeu seu pai e treinador para o cancer um ano antes de estrear na natação internacional quando foi bronze no Mundial Júnior de Lima em 2011.
No ano seguinte, veio para os Estados Unidos onde se tornou um nadador universitário de muito destaque no Alabama. Esteve em três Olimpíadas, finalista duas vezes, quinto lugar em Tóquio e Paris, sempre na sua prova, os 50m livre.
Para ingressar no projeto Enhanced Games, saiu de um break de cinco meses pós-Olimpíada e voltou a treinar com Brett Hawke. Seguiu o protocolo de suplementação e acompanhamento apenas por quatro semanas para “roubar o show” que era de Magnussen. O 20.89 fica ainda mais gigante comparado com a sua melhor marca de 21.44 feita no distante 2018 quando foi vice campeão europeu. Em Paris, no ano passado, ele foi quinto colocado com 21.59.
Como o projeto não é só o resultado propriamente dito, e sim a imagem que passa para as pessoas entrarem na onda do acompanhamento e suplementação, Magnussen promete seguir treinando e diz que vai estar nos Enhanced Games de 2026. Gkolomeev foi mais longe, decidiu mergulhar de vez na suplementação e acompanhamento e emendou mais dois meses de trabalho. Agora a meta era se tornar no “nadador mais rápido da história em jammer”.
Caeleb Dressel fez 21.04 para vencer o título dos 50m livre no Mundial de Gwangju, em 2019. Repetiu a mesma marca ao vencer a Seletiva Olímpica de 2020. É este o melhor tempo da história feito de jammer, ou melhor, sem trajes tecnológicos. E continua.
Gkolomeev treinou e seguiu a rotina do protolo medico cientítico por dois meses com Brett Hawke na Costa Oeste Americana. O projeto era nadar abaixo desta marca e ser o dono dos “dois recordes”. Em Abril, voltou para a mesma piscina, em Greensboro, Gkolomeev levou dois dias, cinco tentativas para finalmente, na quinta. nadar para 21.03. No primeiro dia 21.14, 21.21, 21.16, e no dia seguinte 21.11 e o comemorado 21.03.
Era o que o Enhanced Games precisava, um registro, um feito histórico para deflagrar o processo no qual qualquer um, com o acompanhamento médico e suplementação adequada poderá alcançar grandes resultados de saúde. O projeto inclusive já está disponível, você vai lá no site paga 99 dólares de reserva e se prepara para pagar 389 dólares de mensalidade. Sua saúde, através da ciência e acompanhamento, será muito melhor, é o que diz o projeto. O Enhanced Games é apenas a forma que nos levou todos a saber que isso existia.
Mas os Jogos vão acontecer, e serão uma oportunidade gigante, especialmente para os atletas, ou ex-atletas. Gkolomeev ganhou apenas uma medalha a nível Mundial na carreira, e mesmo sendo, até hoje, o recordista nacional da Grécia, se contabilizar todos os seus rendimentos não deve chegar a três dígitos em dólares. Agora, ele já tem um milhão de dólares ganhos em 20.89 segundos.
Ex-atletas e outros em final de carreira vão correr para a oportunidade, e não tem nada de errado nisso. São drogas legais vendidas sob prescrição médica e que são proibidas no sistema da WADA, mas são remédios e não há nada de errado em serem utilizados para um sistema que não tem regra alguma. Trajes banidos? Não tem regulamentação que restrinja isso, a festa é deles, fazem o que querem.
O lançamento estava lotado, um hotel de luxo em Las Vegas, transmissão ao vivo no YouTube, e uma repercussão gigante dentro e fora da nossa bolha. Enquanto as opiniões se dividem, muito mais condenando do que elogiando, a verdade é que não há absolutamente nada de errado com tudo isso, basta apenas identificar o que realmente é, uma jogada comercial, só isso.
O Enhanced Games vão acontecer, Maio de 2026, cada um dos atletas convidados participantes vai receber verba para estar lá. Pode até não seguir o protocolo oferecido, se medicar de forma individual, passando por uma revisão médica da organização. Vencedores de provas ganharão 250 mil dólares, recordes mundiais premiação extra e os 50m livre da natação e os 100m rasos do atletismo valem 1 milhão de dólares.
É incontestável a qualidade do trabalho e a capacidade de Brett Hawke como treinador. Seus resultados falam por si só. Ao aceitar a missão de Head Coach do Enhanced Games, ele ganha um excelente salário (250 mil dólares anuais) e a oportunidade de oferecer uma vida melhor para a sua família. Abre mão de estar na natação olímpica onde conquistou grandes resultados e conquistas.
Se isso vai contrário aos princípios Olímpicos, WADA, USADA, World Aquatics, a lei draconiana anti-doping do Rodchenkov Act ou aos críticos e fãs, não faz diferença alguma, afinal, isso nem esporte é, é uma ação de marketing para vender tratamento milionário de saúde.
Para terminar, salve Cesar Cielo Filho, o recordista mundial dos 50m livre, 20.91, 16 anos e cinco meses, e contando…
Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming
Site do Enhanced Games