A nova (ou velha) polêmica da natação brasileira é falar sobre o espaço, os critérios, as vagas para a natação feminina do Brasil. Muito pelo contrário, não me incomoda voltar a falar sobre isso, mas me incomoda ficar restrito a ficarmos falando, criticando, ou postando sem uma direção ou uma proposta precisa do que realmente precisa ser feito.

Este ano, tivemos dois episódios que evidenciam uma necessidade em abordarmos o tema de forma mais efetiva, e não ficar apenas nas discussões ou protestos. Tenho certeza, de que a grande maioria das pessoas que aqui passam, ou envolvidas neste processo querem o bem da natação brasileira, feminina e masculina.

No dia 21 de Julho de 2020, quase cinco anos atrás, escrevi o Editorial: “As mulheres reclamam, e com razão”, o qual convido para ser lido abaixo.

https://bestswimming.swimchannel.net/2020/07/21/editorial-as-mulheres-reclamam-e-com-razao/

A evolução da natação feminina desde então, pouco veio de um movimento organizado e planejado para que isso acontecesse, pouco ou quase nada. Foi uma geração talentosa, atletas dedicadas e bons treinadores que fizeram as mulheres serem a base da Seleção Brasileira no Mundial de Doha 2024, obter melhor posição de revezamentos na frente da versão masculina, e ter mais finais olímpicas individuais do que os homens em Paris.

O movimento de aumentar a oportunidade da natação feminina no Brasil foi ínfimo. Para ser mais preciso, o que realmente aumentou, e muito, foi a conscientização, e até mesmo um movimento orgânico de que algo precisa ser feito e não aceitar de forma pacífica.

Os resultados de 2022/2024 acabaram por ofuscar esta necessidade, e voltamos para a ideia das “condições iguais”. Assim como havia escrito em 2020, não é “condições iguais, mas condições especiais”. Enquanto não entendermos esta necessidade vamos continuar batendo nas mesmas teclas, e escutando os mesmos protestos, quase sempre inócuos.

Especificamente sobre a convocação da Seleção Brasileira Universitária feita pela CBDU que vai para as Universíades de Berlim, algo precisa ser dito e informado. Sim, mulheres foram convocadas, mas por conflito de competição (Mundial de Singapura) abriram mão de suas vagas. Substituídas pelos próxmos da lista, pronto, 12 homens! Ou seja, não foram “só convocados homens”, mas fizemos uma convocação sem garantir um número mínimo de mulheres, e aí está o problema.

Ainda sobre a CBDU, ela cumpriu a risca o critério publicado no dia 24 de Abril (link) no quarto dia de competição do Maria Lenk. Se você ler o boletim, vai conferir que todos os critérios foram obedecidos, ou seja, estamos criticando a convocação, enquanto o certo seria questionar os critérios.

A mesma coisa aconteceu com a Seleção Brasileira para o Mundial Júnior feita pela CBDA. Vamos ter uma nadadora entre os 12 convocados que irão para Otopeni, na Romênia. Os critérios não previam número mínimo de mulheres, ninguém questionou antes, a CBDA cumpriu o regulamento e fez a convocação.

O ponto aqui é bem claro, CBDU e CBDA cumpriram os critérios de convocação, e todos os que reclamaram, fizeram questionando a convocação, ninguém se levantou contra os critérios. Está aí o nosso problema!

Regulamentos e critérios precisam ser lidos, questionados e discutidos. Ter uma Seleção Brasileira Júnior com uma nadadora e uma Seleção Brasileira Universitária sem nenhuma, não é bom, para ninguém. Não falo só das nadadoras, mas para o esporte, para o público, para a comunidade e principalmente para as entidades.

Ou definitivamente reconhecemos que algo precisa ser feito, ou vamos continuar nos protestos e reclamações de redes sociais.

Dá tempo, vamos começar a falar das Seleções Brasileiras para o ano de 2026?

Alex Pussieldi, Editor chefe da Best Swimming Grupo Swim Channel