Faleceu na manhã de domingo, vítima de parada cardíaca aos 83 anos de idade o ex-dirigente esportivo Rogério Carneiro. Figura impar na história da natação brasileira, foi destacado pela sua visão inovadora e visionária. Foi também um dos mais conhecidos e celebrados anunciadores da natação brasileira. Rogério Carneiro será sepultado nesta segunda-feira, as 10 horas da manhã, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio de Janeiro.

Para relembrar um pouco das tantas coisas que Rogério Carneiro fez pela natação brasileira, publicamos este artigo especial feito por Roberto Caminha Filho, ex-Vice presidente da CBDA, que fez esta coluna as vésperas do início dos Jogos Olímpicos do Rio 2016 e publicado na imprensa do Amazonas.

<strong>• 1o de agosto de 2016
Rogério Carneiro, o mestre das piscinas
Rogério Lindgren Carneiro, aos 80 anos e tão genial como aos 50, conduzirá a Tocha Olímpica para o Maracanã

A natação do Amazonas descobriu uma geração de “CRAQUES” e elegeu este escriba para levá-los, ou afundá-los, no mais profundo tanque de saltos, rio ou piscina suja desse Brasil. As piscinas, durante as competições, apresentavam-se sempre imundas. Era um tempo de baixa na natação brasileira. Luciano Namorado, Lucy Maurity Burle, Djan Madruga, Rômulo Arantes e outros craques estavam passando para a telinha ou seguindo os caminhos do marketing esportivo.

A natação estava à mercê de uma sorte que não mostrava as caras. Os cariocas, como sempre, inventam o que existe de pior, acreditam naquela invenção e o Brasil segue o Rio. Quando tudo ia muito mal, o Dr. Ruben Dinard de Araújo, já com trinta anos à frente da Confederação e com mais de 85 anos de idade, não fazia nada de novo, quando aconteceu. Surgiu, então, uma equipe de primeiríssima qualidade no Rio de Janeiro, liderada por um genial desportista chamado ROGÉRIO LINDGREN CARNEIRO. O Rogério, com muita inteligência, educação e conhecimento profundo dos esportes olímpicos, começou a inventar em muitos segmentos que o Brasil ainda não sentia. O Coaracy no marketing, o Luiz Fernando nos merchandisings, o Ivo Lourenço nas finanças e o próprio Rogério levando para a frente o que existia de mais moderno no leste europeu e nos Estados Unidos, catapultou a nossa estagnada aquática para patamares inéditos. Rogério trouxe para dentro da natação, a Mesbla, a Atlântica Boa Vista, a Sulamérica, a Kibon, os Correios, o Bradesco e muitas empresas de grande porte do nosso Brasil. O Amazonas enxergou primeiro a figura exponencial de Rogério Carneiro e aliou-se. A geração de Paulo Augusto, o Cajú, Ricardo Brilhante, Gil Machado Jr, Jeferson Mascarenhas, Eduardo Couto da Cunha, Ricardo Chaves de Carvalho, Waltênio Diniz, Cláudio Nobre, Arthur Saião Lobato, Roberval Mascarenhas, Edgar Neto, Fabiano Barros, Moisés Rosas, Osvaldo Vargas, Aristóteles Almeida, Alexandre Almeida e Eduardo Picinnini subiam nos pódios sempre que havia competição. No feminino apareceram Karla Selene Claros, Carla Carvalho, Ana Clícia Lopes, Luciana Pinheiro de Oliveira, Cristiane Oliveira, Satiê Morita, Nívea Valente e muitas outras. O Amazonas colou no Rio de Janeiro e participou de inúmeras clínicas no Brasil e no exterior. Ganhávamos troféus e medalhas como se fôssemos um estado colado ao Rio, a São Paulo, Minas ou Rio Grande do Sul. Cajú, Picinnini, Ricardo Brilhante, Eduardo Cunha, Jefferson Mascarenhas ganhavam medalhas, troféus e índices técnicos como se vivessem no Rio. Éramos ligados ao Rio em todas as promoções feitas pela federação que mais criava pela natação.

Uma noite de domingo, após o Troféu Peixinho Dourado, criado pela TV Globo e realizado em Belém, o Presidente da Federação Paraense e meu ídolo, Arthur Sampaio Carepa, apareceu como um anjo no meu telefone e tascou:

– Caminha, meu bom sacana, o que andas fazendo na natação do Amazonas? Eu estou indo aí e prepara o meu quarto.
– Carepa, o teu quarto está sempre arrumado, para que essa inspeção?
– O Peixinho Dourado tem trinta e quatro provas, ganhaste trinta e três e não participaste da outra. Queres outra razão?
– Claro que não! Estou te esperando para comemorarmos.

Rogério e eu conhecemos, juntos, dois geniais argentinos, detentores da técnica de uso da máquina de ácido láctico e suas análises. Pronto! Levamos Juan Carlos Mazza e Norberto Alarcon para todas as regiões do Brasil e os tempos dos nadadores começaram a despencar. Alarcon, simpático, estudioso e muito disputado, veio para Manaus e perdemos sua passagem de volta. Ele implorou a volta pois já estava para perder a família. O Brasil não podia ficar nas mãos de dois argentinos e perguntei quem seria um professor para dividirmos o Brasil com os argentinos, deixando-os para o Sul e Sudeste. Alarcon, nosso irmão, disse a palavra chave: o nosso mestre e cientista de Cuba, José Juan Blanco Herrera.

Pedi para a Professora Maria Lenk comprar uma das máquinas de Lactato na Yellow Springs e ela ficou maravilhada quando soube, na fábrica, que o Brasil possuía mais de quinhentas máquinas em uso. Eu pedi para a professora sentar e perguntar onde estavam funcionando essas maravilhas. Silêncio sepulcral. E veio a voz da superatleta, quase sumida:
– Robertinho, estão todas no Jockey. São usadas apenas pelos cavalos.
Hoje, nas Olimpíadas do Rio, o Brasil só é competitivo na modalidade em que o nosso Blanco Herrera coordena: as Maratonas Aquáticas. O nome do Dr. Blanco foi sacado, pelo Rogério Carneiro, a fórceps, dos avançados argentinos e trazido para Manaus em uma grande transação com a Cuba Deportes, durante as Olimpíadas de Barcelona.

O ROGÉRIO LINDGREN CARNEIRO, aos 80 anos e tão genial como aos 50, conduzirá a Tocha Olímpica para o Maracanã e contará com a força de todos os campeões amazonenses (técnicos, nadadores e dirigentes), que ele ajudou a formar. Estaremos contigo em cada passada e em cada gota de suor ou de ácido láctico produzido nesse percurso do dia 4 de Agosto de 2016, de mais de trinta anos, ou, como estamos sentindo, de trinta segundos.

Estaremos sempre contigo, Camarada Carneiro!

Roberto Caminha Filho, economista, é fã de carteirinha do Camarada Carneiro.

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