Quase todo mundo pensa que um ciclo olímpico (4 anos) é o tempo de formação e preparação de um atleta olímpico. É muito mais do que isso…

Existem pesquisas e estudos que falam em 10-12 anos para a formação plena de um atleta para aquele que é o maior evento esportivo do planeta.

Fora isso, um levantamento histórico aponta que mais de 70% de todos os atletas olímpicos da humanidade participaram de apenas uma Olimpíada em suas carreiras esportivas.

Ou seja, além de ser longa a preparação, a oportunidade, é quase única.

Só olhando isso, não fica difícil entender o quanto deve ter sido duro para aqueles que se prepararam e nadaram na Seletiva Olímpica em busca das vagas para fazer parte do Time Brasil para Tóquio.

Foi doloroso escutar aquelas entrevistas de frustração, foi realmente difícil assistir a sonhos se dissiparem e só quem faz parte do esporte de alto rendimento é capaz de identificar tamanha dor.

Ali mesmo, durante os sete dias de Seletiva já começaram as conversas, os pedidos, os manifestos. A Seletiva única foi questionada, as condições do tempo, a piscina aberta, e ela, a maior de todas as nossas dificuldades destes tempos atuais, a Pandemia.

Desde o fim da Seletiva, um grupo de nadadores se movimentou em busca de uma segunda oportunidade. Inicialmente um documento foi preparado e enviado a CBDA. No documento, os temas citados acima e um pedido direto, o da inclusão dos atletas na chamada repescagem para completar as vagas não preenchidas na Seletiva.

Há alguns dias, representantes deste grupo realizou uma reunião virtual via Zoom com a diretoria técnica da CBDA e teve a oportunidade de verbalizar o pedido indicando as razões pela solicitação da “segunda seletiva”.

Agora, o grupo voltou a se movimentar, agora através das redes sociais tentando mobilizar não só a comunidade esportiva, mas também a opinião pública e a imprensa.

Desde quinta-feira, atletas, ex-atletas, amigos, parentes, e até mesmo pessoas que gostam do esporte tem replicado, comentado, compartilhado e curtido todas as postagens que clamam pela segunda chance.

Acho super válido todas as ações propostas pelo grupo que recebeu a negativa da CBDA, mas não desistiu de mobilizar a comunidade. A CBDA, junto com o COB, discutiu o assunto de forma interna e decidiu manter os critérios estabelecidos em agosto de 2017 e publicados desde 2019.

Até mesmo o grupo de treinadores que fazem parte do time olímpico (18 atletas e 9 da repescagem), reunidos esta semana, foi quase unânime (11 em 12) ao ser contrário a qualquer mudança de regulamento e uma nova formatação para a repescagem.

A classificação/qualificação olímpica também é monitorada pelo Comitê Olímpico do Brasil que tem outras 33 federações nacionais das outras modalidades que estarão em Tóquio. Mudanças em seletivas, em critérios, podem ter consequências bem difíceis de serem monitoradas dentro do processo de seleção nacional.

É difícil, talvez impossível, contemporizar em situações (pedidos) como este. Colegas de equipe, treinadores e dirigentes devem estar melindrados em poder expressar o que realmente pensam a respeito já que qualquer manifestação contrária a segunda seletiva pode ser interpretada de forma até pessoal.

A Seletiva única é algo muito questionável, e particularmente sempre fui cético, nem a favor, nem contra. Era algo que precisaríamos experimentar algum dia, talvez possa não ter sido a melhor época, mas alguém em sã consciência pode dizer o que funciona nestes tempos de tantas dificuldades?

Mudanças e ou ajustes se fizeram necessário nestes dois últimos anos. A Pandemia nos ofereceu desafios jamais vividos e tivemos (e ainda seguimos) nos adaptando. O que acho mais questionável em todo processo de mudança é fazê-la após a disputa da Seletiva. Isso torna bastante difícil para todo o processo, pois as dificuldades listadas no documento eram todas anteriores ao início da competição.

A Pandemia afetou a todos, a natação não é a única neste problema. Quase todos os países ao redor do globo foram obrigados a fazerem mudanças e ajustes nas suas formas de convocação, de disputa das suas seletivas. Porém, um dado precisa ser evidenciado que todos fizeram isso antes da disputa da Seletiva, qualquer ajuste ou mudança agora, nos faria ser o único neste quesito.

A CBDA já comunicou ao grupo a sua não intenção de mudança de critérios e mantém para o dia 12 de junho apenas a disputa da repescagem aos atletas que testaram positivo para Covid desde 19 de março.

Um levantamento que a Best Swimming apresentou apontou que um total de 24 competições oficiais FINA foram realizadas no período de 1o de março de 2019 até a Seletiva Olímpica do Brasil em abril de 2021. Nestas 24 competições FINA, tivemos a presença de nadadores brasileiros e 13 deles conseguiram atingir os índices estabelecidos pela FINA. Destes 13, apenas três (João Gomes Jr, Leonardo Santos e Marco Antonio Ferreira Jr) fizeram as marcas e não estão no grupo que vai para a Olimpíada. (link)

Não sei se conseguiremos levar todos as nove atletas que aguardam a vaga da repescagem para Tóquio. Se isso acontecer, junto com os 18 já convocados, faria do Time Brasil para Tóquio o maior da história da natação brasileira em Olimpíadas fora do Brasil superando os 24 nadadores de Beijing 2008.

Mesmo assim, o número de atletas que conseguimos colocar na Seleção Olímpica foi bastante expressivo. As dificuldades foram enormes e no final das contas, o resultado foi bem positivo.

Aliás, positivo mesmo tem sido a nova consciência e mobilização dos atletas nas gestões das federações e confederações no país. Isso é muito importante e dentro das coisas que saem deste episódio é que a Comissão de Atletas deve ganhar uma vaga dentro do Conselho Técnico da CBDA. O mesmo que decidiu e deliberou em agosto de 2017 que a Seletiva para Tóquio seria em formato único.

Você pode até não concordar com o pedido da segunda seletiva, mas precisa reconhecer e respeitar este direito de manifestação, e o melhor, sem correr qualquer risco de represália ou punição. Quem viveu, sabe que são novos tempos.

Alex Pussieldi, editor chefe da Best Swimming.

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