Mackenzie James Horton, ou Mack Horton, aos 27 anos de idade é mais um medalhista olímpico a anunciar sua aposentadoria. Com o ciclo olímpico menor, apenas três anos separando Tóquio 2020 para Paris 2024, jamais poderíamos imaginar que 15 medalhistas olímpicos, entre provas individuais e revezamentos, não conseguiriam chegar com suas carreiras até os Jogos deste ano.

É difícil apurar o motivo exato para um número tão alto, ainda mais sendo um ciclo menor, talvez esteja mais ligado ao tamanho do ciclo anterior e a Pandemia do que propriamente o que aconteceu de Tóquio para cá.

Tive a felicidade de acompanhar Mack Horton em toda a sua carreira. Em 2012, com apenas 16 anos de idade ele venceu a sua primeira prova internacional ao se sagrar campeão do Pan Pacífico Júnior nos 1500m livre com expressivos 15:10.07. No ano seguinte, Horton foi o destaque do Mundial Júnior em Dubai. Com cinco medalhas de ouro (200, 400, 800, 1500 e 4x100m livre) todas com recorde de campeonato e ainda uma prata no 4x200m livre se consagrou como o grande nome masculino da competição. É o maior medalhista masculino da história dos Mundiais Júniors.

Eu estava em Dubai e vi que ali estava um super talento.

A primeira Seleção Absoluta de Horton veio no ano seguinte, Pan Pacífico e Commonwealth Games, ambas subindo ao pódio por diversas vezes. Em 2015, seu primeiro Mundial, bronze nos 800m livre.

A consagração viria nos Jogos Olímpicos do Rio 2016 vencendo a prova dos 400m nado livre ao bater o então favorito Sun Yang por apenas 13 centésimos. Com melhores viradas, Horton foi preciso para levar o ouro com 3:41.55. Este duelo já era esperado e foi acirrado por um incidente que aconteceu nos treinamentos de reconhecimento de piscina nos dias anteriores a competição.

Nadando na mesma raia, Yang tentou dar um aperto de mão em Horton em uma das viradas de seus treinamentos. Horton recusou e Yang jogou água no australiano. Pronto, estava acirrada a disputa que ganharia capítulos ainda maiores nos próximos anos. Yang tinha testado positivo no ano anterior e sua suspensão, segundo muitas fontes, nunca havia sido cumprida.

O próximo capítulo nesta disputa acabou gerando uma advertência para ambos. Foi no Mundial de Gwangju, apenas alguns meses depois de outra controvérsia de doping de Yang. Desta vez, Yang vence os 400m livre e Horton é segundo. No pódio, Horton se recusa a tirar a foto junto do vencedor ficando em um protesto silencioso e mantendo a distância do chinês. Os dois receberam um comunicado da então FINA indicando que tal tipo de comportamento não seria mais admitido.

Horton também teve pressão da imprensa por ter se recusado a falar sobre o caso de doping da companheira de Seleção Australiana Shayna Jack ao mesmo tempo que levantava a bandeira contra o doping no esporte, e em especial de Sun Yang. Demorou algumas semanas até que Horton finalmente falou sobre o caso de Jack, e disse que independente de qualquer coisa sentia que seu protesto era legítimo.

Ainda fora da piscina, Horton sofreu um vigoroso ataque virtual dos fanáticos fãs de Sun Yang. As manifestações incluíam ataques pessoais e a sua família. Coisa que inclusive gerou uma redobrada segurança em sua vida pessoal.

Depois da prata do Mundial de Gwangju em 2019, Horton não conseguiu repetir suas melhores marcas e resultados. Conseguiu classificação para sua segunda Olimpíada em Tóquio, mas somente para nadar o revezamento 4x200m livre. Trocou de treinador, mudou para Brisbane, foi treinar com Michael Bohle, mas nada disso trouxe de volta seus resultados.

Sua última tentativa foi a Seletiva do Mundial do ano passado. Terminou em terceiro nos 400m nado livre e ficou de fora da Seleção. Ainda se manteve ativo por alguns meses, mas não competiu mais nos principais torneios.

Aos 27 anos de idade, duplo medalhista olímpico, uma aposentadoria num país que é considerada das maiores forças da natação mundial, mostra o quanto este esporte é vulnerável. Horton deixa a natação não somente pelos resultados que não tem sido os mesmos, mas principalmente pela falta de viabilidade de se manter ativo de forma profissional.

O primeiro campeão olímpico da natação australiana nascido em Melbourne, entra para a história pelos seus feitos, resultados e também pela sua personalidade e defesa pelo esporte limpo.

Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming Inc.