O bi campeão olímpico Grant Hackett ficou mais de seis anos de fora da natação competitiva e voltou aos 34 anos de idade. Segundo cálculos, foram 2.000 dias de afastamento para um dos maiores fundistas de todos os tempos que voltou a nadar apenas para se divertir.

Hackett já disputou duas competições. A última foi neste final de semana onde melhorou os tempos feitos na semana passada. Nadou os 200 livre para 1:49.79 contra os 1:50.68 feitos na semana anterior e nos 400 livre 3:54.67 baixando dos 3:55.68 da sua primeira prova no retorno.

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Nadando no Miami Swim Club, seu eterno clube, e com Dennis Cotterell, o treinador que lhe levou a ser recordista mundial, Hackett voltou com o intuito de poder nadar o revezamento 4×200 livre da equipe que disputa o Australiano no próximo mês em Sydney. Agora, além do revezamento, também vai nadar as provas de 100, 200 e 400 livre. Os 1500 que lhe levaram a fama, estão fora do seu menu.

Hackett não tem aspirações olímpicas, nem para o Mundial de Kazan, a volta foi para fazer algo que lhe faz bem. Em entrevista a um jornal australiano, Hackett falou do seu retono e até mencionou Roger Federer como inspiração:

“Quando perguntaram a Roger Federer porque ele continuava a jogar tênis se ele não vencia mais Grand Slams. Talvez seja porque eu somente amo jogar tênis. Honestamente eu não tenho expectativas com minha volta, apenas é porque estou gostando. Assim que isso passar, eu paro de competir. Minhas crianças estão mais velhas e entendem mais. Agora eu posso levar eles a tudo isso e mostrar como se consegue com trabalho e determinação. Natação não vai ser para sempre, mas o esporte abre uma plataforma e confiança, um estilo de vida que me ajudou a sair de uma fase difícil. Eu devo muito a este esporte”.

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Ainda é cedo para se determinar até onde a volta de Hackett vai. Uma coisa é certa, estes 1:49 já mostram que ele está num padrão de disputar uma vaga no time australiano, embora ele não tenha isso como objetivo.

https://www.youtube.com/watch?v=Zh57lUXgL9Y

A natação tem sido marcada de algumas voltas, algumas muito bem sucedidas, outras nem tanto. Relembre algumas das mais famosas.

A VOLTA DE MARK SPITZ AOS 41 ANOS DE IDADE

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Depois de ganhar sete medalhas de ouro e quebrar sete recordes mundiais em Munique 1972, Mark Spitz se aposentou das piscinas com apenas 22 anos de idade. Quase vinte anos depois, Spitz aos 41 anos de idade aceitou um desafio do cineasta Bud Greenspan para tentar uma volta ao time olímpico para 1992 em Barcelona.

Spitz fez uma série de viagens internacionais promovendo o seu retorno, chegou a nadar a seletiva olímpica americana, mas ficou longe, muito longe de uma vaga olímpica. Nadou os 100 borboleta para 58.03 e precisava 55.59 para estar no time. Lembrando que em 1972, Spitz venceu os 100 borboleta com 54.27.

Muito mais cinematográfica do que sensata, a volta de Spitz serviu para o que se propôs, uma grande jogada de marketing.

A MAIS VELHA MEDALHISTA OLÍMPICA DA HISTÓRIA

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Dara Torres é a rainha das voltas. Depois de três Olimpíadas 1984, 1988 e 1992, Dara se aposentou com quatro medalhas olímpicas, duas de ouro. Voltou a nadar para Sidney em 2000 quando tinha 33 anos de idade para fazer a sua melhor participação olímpica, cinco medalhas, sendo duas de ouro.

Se a melhor participação foi em 2000, a mais histórica foi a de 2008, isto mesmo, Dara Torres depois de sete anos de aposentada e tendo dado a luz para a sua filha Tessa, voltou a nadar e ganhou a vaga para o time olímpico americano de Beijing. Lá, aos 41 anos de idade, Dara foi medalha de prata nos 50 livre com 24.07 a apenas um centésimo do ouro da alemã Britta Steffen. Dara se tornou na mais velha medalhista da história da natação olímpica.

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Pensou que acabou? Nada disso, Dara ainda tentou a vaga para 2012 terminando em quarto lugar no Olympic Trials americano a nove centésimos daquela que seria a sua sexta Olimpíada.

O OURO QUE FOI LEILOADO E A VOLTA MAIS RÁPIDA

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Anthony Ervin foi campeão olímpico em Sydney 2000 com 19 anos de idade, mas tocado pela emoção, e talvez imaturidade, decidiu leiloar a medalha de ouro em benefício das vítimas de um Tsunami na Ásia. Foram cinco mil dólares arrecadados e devidamente doados.

Ervin continuou a nadar por mais três anos, três anos de treinos irregulares intercalados com um momento de muita turbulência em sua vida pessoal. Drogas, depressão, e a falta de motivação tiraram o velocista do esporte. Por anos ficou de fora e só voltou menos de um ano antes dos Jogos de Londres em 2012. Depois de anos de tratamento, de volta a universidade que nunca conseguiu terminar, o novo Anthony Ervin, bem mais veterano voltou mais rápido. Melhorou sua marca pessoal, venceu a seletiva olímpica e chegou a final olímpica. Sem ter ganho a sua medalha de volta, seu retorno foi extremamente celebrado por toda comunidade e está na briga pelo título do Rio em 2016.

AS CONTROVÉRSIAS E FAÇANHAS DA FAMÍLIA MANAUDOU

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Laure Manaudou se tornou na primeira mulher francesa campeã da natação olímpica ao vencer a prova dos 400 livre nos Jogos de Atenas em 2004. Vivia uma grande fase quebrando recordes mundiais, mas não conseguiu suportar a pressão do treinador Phillipe Lucas. Deixou Lucas e a França, foi treinar na Itália, junto de seu namorado Luca Marin. A experiência italiana não durou muito, e a relação com Marin muito menos. Fotos sensuais da nadadora vazaram na internet fazendo o caso ganhar todas as manchetes internacionais.

Manaudou ainda tentou seguir nadando e até foi aos Jogos de Beijing, mas os resultados ficaram longe do que havia feito na Olimpíada anterior e nem passou das eliminatórias.

Aposentada do esporte em 2009, Laure Manaudou voltou motivada pelo novo namorado Fred Bousquet. Se mudou para Auburn nos Estados Unidos e voltou ao esporte. Ganhou a vaga para Londres 2012 onde novamente não passou das eliminatórias, mas pode comemorar o título do irmão Florent nos 50 metros nado livre. Os Manaudous são os primeiros irmãos campeões da história da natação olímpica.

AS VOLTAS DE KLIM E HUEGILL

O antes e depois de Huegill

O antes e depois de Huegill

Os australianos Michael Klim e Geoff Huegill foram companheiros de equipe na forte Seleção Australiana de Sydney em 2000. Hueggil estava no revezamento de prata 4×100 medley e ainda levou o bronze nos 100 borboleta. Klim saiu de lá com quatro medalhas, duas de ouro nos revezamentos 4×100 livre e 4×200 livre, duas de prata, nos 100 borboleta e no 4×100 medley.

Huegill deixou de nadar em 2006, depois de dois anos de fora da seleção nacional. Klim parou no ano seguinte.

Huegill estava com 138 quilos em novembro de 2008 quando anunciou que voltaria a nadar. Perdeu 40 deles e integrou o time australiano para o Commonwealth Games de 2010 onde venceu os 100 borboleta e ficou em segundo nos 50 borboleta. Ainda tentou, sem sucesso, uma vaga no time de Londres em 2012, terminando em quinto na seletiva australiana dos 100 borboleta com 52.50.

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Klim voltou a nadar bem depois. Só em 2011, mas diferente de Huegill, sempre esteve em boa forma. Em poucos meses, estava competindo. Sua volta, sem tanto alarde quando a de Thorpe foi na mesma época, e simplesmente anunciada em uma entrevista de rádio. Klim, como Huegill, não conseguiu a vaga do time olímpico de Londres. Aliás, nem na final chegou. Parou nas semifinais, em 15o nos 100 livre com 50.23 e em 14o nos 100 borboleta com 53.72.

Klim se mantém em forma. Está concorrendo a um prêmio como o Mr. Fitness da Austrália. Huegill voltou a engordar, mas pior mesmo foi ter sido preso no ano passado junto com a esposa com posse de cocaína.

A RAINHA DO FUNDO ASSISTE O NASCIMENTO DA NOVA ESTRELA

Janet Evans foi absoluta no seu tempo. Foi a primeira da história a dominar os recordes mundiais dos 400, 800 e 1500 livre ao mesmo tempo. Seus recordes se mantiveram imbatíveis por mais de uma década e ela ainda teve a oportunidade de ver o nascimento da nova estrela do fundo mundial.

A carreira de Janet Evans é recheada de glórias. São 26 medalhas internacionais, cinco olímpicas, cinco em Mundiais de Longa, duas em Mundiais de Curta e 14 em Pan Pacíficos. Mais expressivo que isso é de que destas 26, 21 são de ouro.

Em 1996, em Atlanta, Janet Evans encerrou sua carreira sem qualquer medalha. Nos 400 livre, nem chegou a final. Nos 800, terminou em sexto, mas teve a honra de ser a atleta a entregar a tocha olímpica para Muhammad Ali acender a pira.

A aposentadoria veio ali mesmo. Ficou de fora do esporte por anos e voltou em 2010, aí como nadador masters. Em 2011, decidiu, junto com Mark Schubert tentar nadar o USA Olympic Trials e, num sonho ainda mais distante, uma vaga no time olímpico para Londres 2012.

O sonho se mostrou irreal com os resultados. Ficou em 80o lugar entre 113 nadadoras dos 400 livre e em 63o entre as 65 que disputaram os 800 livre. Pelo menos teve a chance de ver o nascimento da nova estrela do fundo mundial. Ali, com a vitória nos 800 livre e depois o ouro olímpico em Londres era o nascimento de Katie Ledecky, a nova rainha do fundo.

https://www.youtube.com/watch?v=lPgmQo7PCdo

A VOLTA E RE-VOLTA DE MICHAEL PHELPS

Com o ouro do 4×100 medley masculino e a vitória americana se encerrava a disputa da natação olímpica dos Jogos de Londres em 2012. Uma homenagem feita pela FINA estendeu o programa reconhecendo os feitos de Michael Phelps, o maior nadador da história, dono de 22 medalhas olímpicas e 18 de ouro. Um troféu especial, uma volta literalmente olímpica e papéis de aposentadoria assinados ali mesmo, ao final da competição.

Depois de meses de rumores, Phelps assinou os papéis de sua volta em julho de 2013. Assim em março de 2014 estaria autorizado a competir. E foi no Grand Prix de Mesa no Arizona do ano passado quando ele depois de 19 meses retornava as piscinas. Phelps foi campeão do Pan Pacífico e terminou o ano como número um do mundo nos 100 borboleta e segundo nos 200 medley. Em setembro, se envolveu num incidente de trânsito e foi detido por dirigir embriagado. Teve a carteira de motorista retida, foi suspenso pela USA Swimming por seis meses e cumpre liberdade condicional. Phelps se internou num centro de reabilitação para tratamento de alcolismo e o vício no jogo. Sua recuperação tem sido ótima. Anunciou o noivado com uma antiga namorada, retomou os treinamentos como nunca e estará autorizado a competir no próximo mês. A re-volta será na mesma Mesa, o Grand Prix agora chamado de Arena Pro Swim Series que vai marcar o seu retorno ao que ele faz de melhor.

AS FANFARRAS E O FRACASSO DE IAN THORPE
Quando um atleta volta ao esporte competitivo, ele volta devagar, aos poucos e sem alarde. Ian Thorpe fez tudo ao contrário. Sua volta foi patrocinada por uma empresa aérea, o anúncio foi marcado por um grande evento onde belíssimas modelos vestidas de aeromoça faziam a recepção. Thorpe anunciou sua volta para tentar uma vaga no time olímpico de 2012. Diferente da grande maioria dos nadadores que voltam da aposentadoria que nadam competições locais ou até mesmo masters, Thorpe voltou numa etapa de Copa do Mundo em Singapura. O anúncio do seu retorno indicava que iria treinar em Dubai inaugurando o vôo que estava sendo aberto entre Austrália e os Emirados Árabes Unidos. Thorpe treinou apenas um dia por lá. Seu resultado na estréia foi pífio assim como todos os outros até fracassar na seletiva olímpica australiana. Lá, depois de 18 meses de treinamento na Suiça e jamais em Dubai ele ficou na semifinal dos 200 livre em 12o e nem passou das eliminatórias nos 100 livre.
Mesmo assim, Thorpe ainda foi para Londres, mas como comentarista de natação da BBC.

AS NOVAS MAMÃES
A sueca Therese Alshammar, a holandesa Marleen Weldhuis, a russa Anastasia Zueva, e a argentina Cecilia Biagioli. Todas mamães e que depois da primeira gravidez decidiram voltar ao esporte.
Therese Alshammar já disputou cinco Olimpíadas e agora depois de dar a luz ao pequeno Fred em junho de 2013 segue treinando para estar no Rio e fazer a sua despedida.
Marleen Veldhuis se afastou por um ano em 2010 para ter a sua filha Hannah. Em sua última Olimpíada em Londres 2012, dividiu suas medalhas na arquibancada com a pequena filha sendo carregada pela manhã.
A russa Anastasia Zueva virou Fesikova, isto porque se casou com Sergey Fesikov da Seleção Russa. Fesikova foi prata em Londres nos 200 costas e só retornou ao esporte este ano em busca de uma vaga para o Rio 2016.
Outra mamãe é a argentina Cecilia Biagioli que retornou a natação competitiva depois de sete meses de dar a luz para Joaquin.

1 responder
  1. Alessandro
    Alessandro says:

    Imagina o que Phelps vai fazer nas competições internacionais com 30 , 34 , 38 e 40 anos? A diferença do Phelps para estes, é que ele vem pro ouro.

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