A maior tragédia das águas abertas internacional aconteceu na prova que encerrava a temporada da Copa do Mundo de 2010 na praia de Fujairah, nos Emirados Árabes Unidos. A morte do nadador americano Francis Crippen foi a primeira e única morte de um atleta em um evento FINA na história. Passados cinco anos, o fato ainda é lembrado com dor nos Estados Unidos. Não foram poucas as homenagens e registros da data nesta sexta-feira.

Francis Crippen morreu aos 26 anos de idade naquele sábado 23 de outubro de 2010. Ele vivia o melhor momento da sua carreira. Nadador de uma família de quatro filhos, três irmãs, todos nadadores e todos integrantes de diferentes seleções americanas. Revelado na Germantown Academy sob o comando do treinador Richard Shoulberg, Crippen foi atleta destacado da Universidade da Virginia antes de se transferir para o Mission Viejo Nadadores na Califórnia, onde na época treinava com Bill Rose.

A mudança da natação de piscina para as águas abertas foi em 2006. Desde então, quatro títulos nacionais americanos, dois na prova dos 5 quilômetros, outros dois nos 10. Foi campeão da primeira prova de águas abertas nos Jogos Pan Americanos disputada na praia de Copacabana no Rio em 2007. Venceu a prova de águas abertas do Pan Pacífico de 2006 e 2010. Naquele ano, estava em segundo lugar no ranking da Copa do Mundo. Na temporada, havia vencido a prova de Viedma na Argentina e a penúltima prova em Cancún, no México. Ele ainda foi segundo colocado nas provas de Roberval no Canadá e em Shantou na China, mais um terceiro lugar em Hong Kong.

Crippen campeão do Pan de 2007 no Rio

Crippen campeão do Pan de 2007 no Rio

Na prova de Fujairah, muitos problemas de segurança. Poucos barcos, quase nenhuma assistência. O regulamento da Copa do Mundo exigia que Francis Crippen completasse a prova para ter direito ao título de vice campeão da temporada e ao prêmio da FINA. Crippen nadava sem treinador, apenas John Fabian, pai e treinador de Eva Fabian representava os americanos. Concentrado na prova feminina, Fabian não prestou a atenção na última volta de Crippen. Na volta anterior, o nadador havia reclamado de estar com muita sede.

A prova masculina foi vencida pelo alemão Thomas Lurz. A suíça Swann Oberson levou a feminina. A brasileira Ana Marcela Cunha chegou em terceiro lugar e ganhou o seu primeiro dos três títulos mundiais. Allan do Carmo chegou na quinta posição e garantiu a terceira posição do ranking na temporada. Saiu passando mal, foi levado para o hospital.

Na praia, outro nadador americano, Alex Meyer, decidiu não participar da prova. Aguardava a chegada do companheiro que não chegava. Barcos e fiscais já haviam deixado seus postos quando Meyer começou a gritar pedindo socorro. Nadadores de todos os países colocaram seus óculos e retornaram as águas do Golfo Pérsico em busca de Francis Crippen.

Seu corpo foi encontrado duas horas após o fim da prova. Estava a 400 metros da linha de chegada. Ainda foi levado para um hospital local, mas já sem vida. Lá, Allan do Carmo era medicado quando chegou o corpo do americano.

O diagnóstico da morte de Francis Crippen levou meses para ser divulgado. Morreu de um problema cardíaco agravado por uma asma induzida pelo esforço. A família e a USA Swimming jamais aceitou o resultado. O caso deixou dirigentes da FINA e USA Swimming em litígio que até hoje se mantém. Uma oferta de compensação para a família do nadador foi rejeitada.

A morte de Francis Crippen mudou as águas abertas. Mudaram as regras, as normas, o esporte. A Copa do Mundo de 2011 só foi começar em abril, quatro meses depois do que sempre acontecia. Uma nova regra de temperatura máxima foi introduzida no esporte. Antes não havia. Hoje, as provas antes de serem realizadas precisam ter a medição da temperatura duas horas antes da sua disputa. A mínima é de 16 graus, a máxima 31. Nos Estados Unidos, a máxima é de 29 graus.

Logomarca da fundação Francis Crippen

Logomarca da fundação Francis Crippen

Aquela exigência do nadador ter de completar a última prova da temporada para ter direito a premiação acabou. Agora, os atletas precisam apenas largar. Na nova regulamentação, nenhum nadador pode participar desde que tenha o seu próprio treinador ou responsável na prova. A situação de um técnico alimentar dois atletas na disputa não é mais permitida.

Exigências de segurança, controle e fiscalização foram incrementadas nas provas da FINA. Os Emirados Árabes Unidos foram retirados do Circuito até este ano. Uma prova em Abu Dhabi foi disputada e, mesmo com todos os protestos e boicote dos americanos, correu sem problemas.

A memória de Francis Crippen é celebrada todos os anos pelos americanos. Uma fundação organiza uma prova de águas abertas e patrocina nadadores de destaque. Pena que tenha sido pela sua perda que conseguimos modificar as regras do esporte em benefício de todos.

Reportagem da CBS anunciando a morte de Francis Crippen.

 

Link da fundação que leva o nome do nadador:

http://francrippen.org

 

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