A palavra inveja é depreciativa, o objetivo não é esse. É uma mistura de admiração com frustração, mais do que isso, de reconhecimento pelo excelente trabalho que os americanos fazem com os seus campeonatos nacionais.

Já tendo participado de duas Olimpíadas, posso garantir a vocês que o USA Olympic Trials é, disparado, o maior e mais organizado evento de natação do mundo. Algo que vale a pena qualquer um de nós que gosta do esporte de presenciar e admirar a capacidade de organização, administração, promoção e marketing que eles conseguem fazer

Depois de acompanhar a Seletiva Americana durante os últimos cinco dias, confira a minha lista do Top 10 e de que realmente vale a pena acompanhar os eventos da USA Swimming.

1) CASA CHEIA

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O William Woolett Aquatics Center na cidade de Irvine esteve lotado nos cinco dias de competição. Um público formado por amigos, familiares e pessoas que gostam e vibram com a natação competitiva. O esporte quando promovido sempre tem maior aceitação e receptividade. Tem sido bastante frustrante ver a quantidade de pessoas que presencia nossas principais competições. Verdade seja dita que em São Paulo no Maria Lenk deste ano foi bem maior do que nos últimos anos no Rio de Janeiro.

2) LOGÍSTICA

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Para quem viu na internet viu uma competição toda marcada, redonda e sendo rodada nos tempos previstos e determinados. Enquanto que uma etapa do Maria Lenk que passa ao vivo no SporTV as vezes chega a duas horas de transmissão (apenas finais A), a seletiva americana teve exatas duas horas de transmissão todos os dias com finais A, B e C. Não se perde tempo, as coisas programadas acontecem como previstas.

3) INTRODUÇÃO E RECONHECIMENTO

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Rodolfo Carneiro é um dos melhores locutores de natação que conheci. O locutor oficial da CBDA é preciso, tem voz clara e precisa, porém não tem o recheio, não tem as informações técnicas e alusivas que abrilhantam uma competição. É algo que faz parte da cultura americana, onde feitos, registros, tempos, recordes, enfim qualquer coisa que abrilhante a competição fica ainda mais significante quando reconhecidos. Os americanos fazem isso bem demais. Isso é produção, e algo que faz muita diferença.Vale lembrar que ao final da competição, toda a Seleção Americana, mais de 60 pessoas, atletas e comissão técnica foram apresentados, um a um, sendo reconhecidos pelo feito de suas conquistas.

4) PÓDIO COMPLETO E RÁPIDO

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É uma reclamação antiga minha. Cerimônias de premiação são longas, chatas e maçantes. No Brasil, pior. Sempre fui a favor de ter a premiação saindo da piscina direto para o pódio. Tem gente que insiste em dizer que o pódio é a hora da exposição do clube e patrocinador e por isso é necessário todo aquele cerimonial feito no Brasil. Na seletiva americana, todos os oito finalistas estavam no pódio, todos com o uniforme e ainda com a devida apresentação sempre de uma autoridade ou atleta do passado para a entrega das medalhas. O intervalo entre o final de prova, entrevista com o campeão e premiação era feito todo com tempo cronometrado e dentro da previsão estabelecida. Sem atrasos, nem delongas.

5) TRATAMENTO VIP

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Quem já competiu nos Estados Unidos sabe que isso funciona muito bem. Treinadores tem área onde podem relaxar durante a competição, ler, descansar e principalmente comer. Fartas refeições, café da manhã, almoço e jantar em menus selecionados e bem atrativos fazem das “hospitalities” locais onde os profissionais tem oportunidade de recarregar as baterias e atuar ainda melhor em suas funções. Para os atletas, isso também é oferecido nas competições nacionais. Existe uma área onde eles podem descansar, jogar video game e sair um pouco da área competitiva. Para os membros da Seleção Americana, este espaço é ainda mais Vip com alimentação, hidratação, mesas de massagem e o sistema de análise técnica disponível para conferência.

6) O PASSADO SEMPRE RECONHECIDO

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Talvez uma das maiores diferenças culturais do esporte americano em relação ao Brasil. A capacidade de poder promover e reconhecer antigas estrelas da natação é simplesmente fantástica. É verdade que os americanos tem uma história muito mais rica do que a nossa, mas não pense que nomes como Aaron Peirsol, Jason Lezak, Matt Biondi, Amanda Beard , Janet Evans entre outros não apareceram por acaso por lá. Existe um departamento dentro da USA Swimming responsável por convidar estes atletas, oferecer algumas condições e área reservada durante os eventos. É reconhecendo o nosso passado que se determina um futuro mais promissor.

7) VISUAL NOTA 10

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Quem viu a piscina de Irvine três dias antes da competição e depois assistiu a transmissão talvez não reconhecesse o local. A transformação é grande e completa. Um departamento especializado de marketing capricha na produção visual nas faixas, bandeiras, banners espalhados por todo parque aquático e até mesmo no fundo da piscina. O deck revestido de um tapete azul combinando com as cores dos prismas e faixas espalhados dão uma imagem perfeita de que tudo foi produzido de forma profisisonal.

8) O FUTURO

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O Campeonato Americano é disputado em três finais, A, B e C. Para a final C, apenas nadadores de 18 anos ou menos são elegíveis. A iniciativa é de promover a renovação de valores e oferecer nova oportunidade para os nadadores mais jovens. Além disso, os melhores nadadores de cada prova na faixa etária de 18 anos e menos são reconhecidos como campeões da prova na faixa “18 & Under”, outra medida com vistas a promover a renovação e preocupação com o futuro da natação americana.

9) CRITÉRIOS DEFINIDOS

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Os americanos fazem uma seletiva e só uma para definir a sua seleção. O melhor de tudo é ter critérios definidos e anunciados meses e as vezes até anos com antecipação. Para treinadores e atletas saber exatamente os critérios, métodos e processos que irão ser utilizados são determinantes no planejamento e programação para a obtenção dos objetivos. Uma tranquilidade que ainda não temos em nosso país.

10) OS RESULTADOS ON-LINE

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A CBDA levou anos para desenvolver um programa online de resultados e acompanhamento de competições. Para quem acessa sabe da complexidade do site, dos inúmeros passos para se chegar a uma prova e ou resultado. Acostumado com o CBDAWEB quem visita o site da USA Swimming fica impressionado com a rapidez, facilidade e simplicidade das competições americanas. A USA Swimming disponibiliza resultados on-line em seu website, no site da Omega Timing e ainda numa plataforma adicional para telefones móveis e tablets no aplicativo Meet Mobile. É para ninguém reclamar da falta de opção e oportunidade de conferir os resultados. E tudo em Real Time!

Esta “inveja” é uma forma de expressar a magnitude de como os americanos sabem fazer e promover seus eventos, tornando-os atrativos e vendáveis. Uma lição para todos nós.

Por Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming Inc.

7 respostas
  1. indignado
    indignado says:

    Estamos a anos luz de distância dos USA em matéria de profissionalismo e organização, porém a menos de dois anos para os Jogos Olímpicos. Pobre país… E, de quebra, ainda temos de aguentar Coaracy, Ary Graça, Nuzman, Marin, Marcos Vinícius, e outros velhotes milionários que não entendem “lhufas” de esporte e só olham para o próprio umbigo. Vexame na certa no Rio 2016…

  2. Sergio
    Sergio says:

    Aí está a diferença entre país de 1º mundo e país de 3º!
    Essa matéria foi sobre competições de natação, porém especialistas poderiam escrever matérias parecidas sobre as diferenças entre as competições de atletismo, ginástica artística, basquete, e até mesmo educação, transporte, política!
    Os pequenos detalhes tornam esse país a grande potência esportiva!

  3. Afonso
    Afonso says:

    Mudar o modelo.
    A Alemanha reconheceu suas fraquezas. Mudou toda a estrutura do seu futebol, desde a base. Reconheçamos que muita coisa foi feita, mas não basta. Precisamos fazer mais. Perestroika=> Reconstrução na tentativa de recuperação e Glasnost=> transparência visando a liberdade de expressão e ouvidos para se ouvir.

  4. diogo
    diogo says:

    Muito boa matéria! Pode se notar que não é falta de dinheiro o problema do Brasil. É falta de iniciativa, organização e inovação dos responsáveis pela natação Brasileira e por seus filiados que quase não protestam.

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