Poderia ter sido Caeleb Dressel, sem dúvida, o melhor nadador do mundo na atualidade. Ou Katie Ledecky, a atleta que detém a maior invencibilidade esporitva do planeta. Poderia ser o dominante Adam Peaty, ou a Dama de Ferro Katinka Hosszu, não, não foi nenhum deles. Foi Bruno Fratus!

Não sei nos outros esportes, mas na natação mundial, não teve ninguém que tenha sido mais direto, mais preciso e corajoso do que Fratus em todo este episódio de Pandemia do Coronavírus que acabou por determinar a mudança de data dos Jogos Olímpicos.

Fratus mora e treina nos Estados Unidos. Mais precisamente em Coral Springs, no sul da Flórida. Lá, o belíssimo complexo aquático foi fechado por decisão das autoridades. Até barricadas colocaram na frente, impedindo o acesso por completo.
Em inúmeras tentativas na busca de outras opções de treinamento, Fratus conviveu com pedidos sem resposta, e muitas piscinas fechadas. No ápice da crise, entre incertezas e dificuldades, o COI se manifesta em postagens híbridas e sem conexão com o que os atletas do mundo inteiro estavam a sofrer.

Assim, de forma bem direta, Fratus se dirigiu a Kirsty Coventry no dia 19 de março na sua conta de Twitter. Para começar chamou a integrante do Comitê Olímpico Internacional e representante dos atletas na entidade de “colega nadadora e olímpica”. Não falou apenas em seu nome, mas das dezenas, centenas, talvez milhares de atletas das mais diferentes modalidades que estavam impedidos de praticar o seu esporte, a sua profissão.

Aliás, Fratus é um dos mais profissionais da natação que já conheci. Chega a ser chato. É determinado, sistemático, em tudo que faz. E competitivo, muito competitivo.

Ele e tantos outros convivendo com as dificuldades que a Pandemia determinou, fazendo alguma espécie de treinamento, correndo riscos, de forma precária e aumentando os riscos de contaminação.

Kirsty Coventry não respondeu a Fratus. Optou apenas por segui-lo nas redes sociais, mas para quem conhece a maior nadadora da África de todos os tempos, sabe que ela levou a mensagem. E brigou pelos atletas.

Bruno é um nome de origem germânica. Brunnus quer dizer polido, com lustro. Fratus não é o cara mais polido que eu conheço. Longe disso. É uma pessoa sincera, as vezes até demais. Não gosta de ser um personagem, e esta “sinceridade” as vezes lhe expoem com uma imagem diferente do que ele realmente é.

Fratus é o melhor nadador do país na atualidade. Nossa maior esperança, e uma pessoa que não tem se escondido nas discussões importantes do nosso esporte.

Ele acompanha a nova geração. Manda mensagens, prestigia os novos atletas que tem sido revelados. Pouca gente sabe disso, mas faz com frequência.

Neste movimento pela transferência dos Jogos para 2021, Bruno foi o líder que precisávamos.

Talvez, nem ele lembree, mas mais ou menos há uns 13-14 anos, Fratus me ligou perguntando se poderia vir treinar comigo nos Estados Unidos. Na época, o jovem velocista treinava com Rogério Arapiraca na ACEB da Bahia. Tinha uma proposta para se transferir para o Pinheiros ou vir para os Estados Unidos.

Minha resposta foi simples. “Tente o Pinheiros, se não der certo, serás bem recebido”. Fratus foi para o Pinheiros se transformar num dos melhores velocistas do Brasil e do mundo.

Hoje, o nadador que mais vezes quebrou a barreira dos 22 segundos na prova dos 50 metros nado livre no mundo, é a nossa maior esperança de medalha para Tóquio 2020 (1). E que bom, que não se trata de apenas um nadador, mas um atleta com responsabilidade, cidadania, um representante que o esporte precisa.

Obrigado Bruno!

Por Alexandre Pussieldi, editor chefe Best Swimming.

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