Não consegui aguentar nem o final da Paralimpíada para escrever isso, mas é patético, medíocre, um abuso a boa fé e ao Movimento Paralímpico. Subjetivo, inconclusivo e confuso. Os Jogos Paralímpicos e o movimento por si só merecem uma atenção melhor. Não é patriotada, sério, não estou aqui defendendo este ou aquele atleta, mas existem lacunas, grandes mesmo, que comprometem todo o sistema e o IPC precisa trabalhar melhor nesta reclassificação.

Para você que não acompanha o esporte paralímpico, o sistema de classificação é algo que nasceu para deixar o esporte mais justo, deixando as pessoas divididas em classes que colocaria os atletas em níveis mais parelhos com as suas respectivas deficiências. Como temos 10 classes para as deficiências físicas, é onde seria mais fácil dividir os atletas, afinal são 10 diferentes níveis. Nas deficiências visuais são três classes e a deficiência intelectual, esta sim, por ser apenas uma classe, acaba eliminando por completo atletas com níveis mais elevados de autismo e síndrome de down.

O que nos chama a atenção é que nas 10 classes de deficiência física é que estão os maiores absurdos. Onde deveria ser mais fácil, ter mais critérios pelo número de classes. Vou descrever a prova dos 50 metros costas classe S5 masculino que foi disputada hoje em Tóquio. O chinês Tao Zheng venceu a prova com 31.42, para mim, o resultado “mais expressivo” de toda competição até agora. 31.42 para um nadador de classe S5 nadando costas é muito, mas muito forte.

Daniel Dias é o atual bi campeão paralímpico dos 50 livre vencendo no Rio 2016 com 32.78 e em Londres 2012 com 32.05. Estamos falando de livre!

Nos 50 costas, Daniel Dias era tri campeão paralímpico. Veja os resultados destes últimos quatro Jogos Paralímpicos:

2008 Beijing – Daniel Dias 35.28
2012 Londres – Daniels Dias 34.99
2016 Rio de Janeiro – Daniel Dias 35.40 (e colocando dois segundos de vantagem sobre o segundo colocado)
2020 Tóquio – Tao Zheng 31.42

Vale destacar que Tao Zheng não tem nada a ver com isso, o nadador é parte do sistema e ele foi reclassificado. Zheng é um excelente nadador, por sinal chegou a Tóquio duas vezes campeão paralímpico dos 100 costas Londres 2012 e Rio 2016, mas como classe S6. Agora, no S5, já faturou três ouros, todos com novo recorde mundial: 50 borboleta, 50 costas e o revezamento 4×50 livre.

O sistema de classificação paralímpico é tão frágil que nem no Campeonato Mundial na sua última edição Zheng estava presente. Lá, outro chinês Lichao Wang venceu com 35.81. Wang também era da classe S6 no Rio 2016 e hoje na final dos 50 costas ficou com o bronze com 33.38. E isso foi em 2019!

Nadadores melhoram, recordes foram feitos para serem batidos. Os 31.42 de 50 costas classe S5 masculino é, sem dúvida, o melhor resultado de toda natação paralímpica de Tóquio, uma pena que seja alcançado por um sistema de classificação comprometido.

Uma pena que o IPC não tenha revisto tudo isso, uma grande pena. Toda esta discussão começou lá trás, em 2017, havia tempo para uma análise mais adequada. Não foi feito, que pena. Faltam 3 anos para Paris…

Por Alex Pussieldi, editor chefe da Best Swimming.

1 responder
  1. Gisliene Hesse Lima de Souza
    Gisliene Hesse Lima de Souza says:

    Pusield,

    Isso e muito mais. Vejo que a Classe 5 é um problema sério. O Clodoaldo, por exemplo, quando foi reclassificado, Anne Green disse que ele estava tendo bons resultados, que tinha se desenvolvido e que seria reclassificado. Isso em 2008. Entramos com um processo na Corte MUndial, não adiantou nada. E muitas coisas estavam envolvidas politicamente, como o fato de Clodoaldo por exemplo não dizer amém a tudo que o órgão principal do Brasil que é o CPB queria. Entre outras questões muito pontuais.

    Nós, tanto eu quanto Clodoaldo, estamos indignados. Até hoje, a classificação é feita por pessoas voluntárias, a sua maioria da Europa. E não existem critérios claros e muito menos com utilização da tecnologia. Como pode o sistema ter chegado no nível que chegou e termos todos os classificadores voluntários? Inimaginável.

    Sobre o André. Como pode o sistema deixar um atleta competir durante 14 anos e virar pra ele e dizer que ele, a partir de agora é inelegível. Absurdo. Vi uma matéria sobre o caso do André que foi ao ar e o CPB disse que a natação está evoluindo, como se tudo isso estivesse certo, deu a entender. O posicionamento deu a entender isso. Apesar de sabermos que o atleta foi apoiado pelo CPB e também teve autonomia de decidir as coisas.

    Fica feio para o IPC e tira totalmente a credibilidade do esporte paralímpico o que tem ocorrido. Sinceramente, se Clodoaldo se junta ao Daniel e André Brasil e faz um movimento mundial contra o IPC pode dar certo, no entanto, depois de tantos traumas que Clodoaldo passou, ele não quer nem voltar a esse assunto.

    legal você abordar o tema. Vamos ver se escrevemos sobre na coluna do Clodoaldo essa semana.
    Um grande abraço e muito respeito por você.

    Gisliene Hesse

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