O conflito entre Rússia e Ucrânia está longe de terminar, e as primeiras consequências foram os anúncios de independência das Repúblicas Separatistas de Luhansk e Donetsk da Ucrânia e imediatamente reconhecidas pela Rússia que já está a enviar “tropas para garantia de paz” na região. Pelo menos desde 2014, ambas as regiões já se encontram em sistema de “governo local independente” e em confronto direto com o Governo central da Ucrânia, mas aqui vamos nos deter a análise olímpica do que representa este novo quadro separatista.

A primeira, e talvez, mais importante informação é de que o Comitê Olímpico Internacional jamais irá reconhecer ambas como novos membros da entidade. Por se tratar de um tema muito polêmico, e longe da aprovação internacional, a maior tendência aqui é ambas as repúblicas terem seus atletas representando outros países, isso, se o movimento separatista persistir. O certo é que jamais serão integrantes do COI.

Donetsk e Luhansk são importantes centros esportivos e com muita história olímpica. Na última Olimpíada de Tóquio, 10 atletas de Donetsk e cinco de Luhansk estavam presentes. Tivemos até medalhistas da região. E todas vieram dos esportes aquáticos.

De Donetsk, teve medalha de ouro com Marina Golyadkina, mas representando o Comitê Olímpico Russo no imbatível time russo de nado artístico ganhando a prova de equipe, coisa que os russos nunca perderam. Donetsk ainda teve outra medalha, esta de bronze e pela Ucrânia, e na mesma prova por equipes do nado artístico, Alina Shynkarenko, uma das surpresas marcando a evolução da Ucrânia na modalidade.

A terceira medalha veio de Luhansk e foi nos saltos ornamentais. Oleksandr Bondar foi bronze na dupla que ficou em terceiro lugar na plataforma sincronizada. Bondar tinha sido uma das revelações dos saltos da Ucrânia em 2010 quando ganhou duas medalhas nos Jogos Olímpicos da Juventude em Singapura, mas foi outro atleta que decidiu optar pela cidania russa e competiu em Tóquio pelo Comitê Olímpico Russo.

Na história olímpica, Donetsk teve 49 atletas participando dos Jogos Olímpicos de Inverno, Verão e da Juventude, enquanto que Luhansk forneceu 36. Também é expressivo o número de nadadores revelados nas duas repúblicas. De Donetsk saíram cinco nadadores olímpicos e de Luhansk foram três. Destes nadadores das duas regiões, um estava em Tóquio, Vladyslav Bukhov, de apenas 19 anos de idade, e que foi semifinalista dos 50 metros nado livre terminando em 11o lugar. Bukhov havia feito sua melhor marca pessoal nas eliminatórias com 21.93. Em 2019, Bukhov foi campeão mundial júnior dos 50 livre em Budapeste.

 

Vladyslav Bukhov no Mundial Júnior 2019 (Photo by Ian MacNicol/Getty Images)

 

Um dos maiores impactos e nomes ligados as duas regiões não está mais competindo, mas é muito afiliado tanto a Luhansk, onde nasceu, e a Donetsk, onde conseguiu alguns de seus melhores resultados. Estamos falando de Sergey Bubka, apontado como um dos maiores saltadores com vara de todos os tempos e que desde 2005 preside o Comitê Olímpico da Ucrânia e é membro do COI desde 2008.

 

Sergey Bubka – Divulgação

 

Bubka foi atleta olímpico da União Soviética em 1988 ganhando a medalha de ouro. Depois esteve em três Olimpíadas, 1992, 1996 e 2000, nunca mais ganhou medalhas, mas seguiu batendo recordes e conquistando títulos mundiais. No total, são 17 recordes mundiais na prova do salto com vara e outros 18 em provas disputado no atletismo Indoor. Aliás, destas 18 marcas Indoor, três delas foram em Donetsk. A cidade, inclusive, sedia um torneio internacional anual chamado Estrelas do Salto com Vara em homenagem a Bubka.

O Comitê Olímpico da Ucrânia fica em Kiev, onde Bubka vive com sua família, mas ainda mantém fortes relações com Luhansk, sua cidade natal e de seu irmão, Valery Bubka, outro destacado saltador com vara olímpico da Ucrânia.

As duas regiões combinadas, Donetsk e Luhansk, somam cerca de 1,4 milhões de pessoas, mas com população bem dividida na representatividade. Números apontam 48,6 russos contra 46% ucranianos em Donetsk e 49,6% ucranianos contra 47% russos em Luhansk. Indicativos de que muita coisa ainda pode e vai acontecer.

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