Era a década de 90, Clube Português do Recife fazia um dos melhores trabalhos no programa de base do Brasil. Eram muitos nadadores, revelações que se tornaram campeões brasileiros de categoria, absolutos, seleção brasileira, olímpicos. O programa foi um movimento organizado, nós da comissão técnica visitávamos escolas de natação, colégios, programas assistenciais e fundações. Era uma permanente busca por talentos.

Lembro de um Norte-Nordeste Mirim e Petiz em Fortaleza com o incrível número de 126 nadadores do Português na competição. Por anos, o clube pernambucano teve o melhor trabalho de base do Brasil.

Este processo de inclusão deu resultado. O “arrasão do Português”, como chegou a ser chamado, era marcado quando chegavam aquelas dezenas de nadadores juntos em determinada competição, e deu resultados. Quase de imediato a nível local e com poucos meses, o Português era o melhor clube da região Norte-Nordeste. Foram 10 títulos consecutivos do Norte-Nordeste Mirim e Petiz.

Com dois Norte-Nordestes por ano, sendo um na região Norte, o tal processo de inclusão tinha um custo. E começaram a aparecer os problemas para podermos viabilizar a viagem de todos. O clube ajudava muito, pagava o grande montante de inscrições, mas as passagens eram de responsabilidade das famílias. E nem sempre tinham dinheiro para isso.

A alegria de fazer parte daquele time era conceito básico do programa, mas com jovens nadadores impedidos de viajar, passamos a lidar com certa frustração. A viagem para a região Nordeste era possível, para o Norte cada vez mais difícil.

Foi assim que nasceu o Nordestinho. Fizemos uma competição com o conceito de que famílias não conseguiam acompanhar o rigor e as demandas do calendário e no sentido de manter nosso espírito de equipe criamos uma competição para ser sempre realizada um mês antes do Norte-Nordeste que aconteceria na região Norte. Seria o nosso “Teste Evento” para quem poderia ir para a competição principal e uma festa (oportunidade) para aqueles que sabiam que não poderiam estar nos eventos mais longes e caros.

O Nordestinho nasceu em 1995, e 27 anos depois só deixou de ser realizado nos dois anos de Pandemia em 2020 e 2021. Em 1999, quando já estava morando nos Estados Unidos, por iniciativa do treinador da Nunage de Recife, Nuno Trigueiro, foi solicitado (sem meu conhecimento ou autorização) a colocação de meu nome no torneio que crescia a cada ano. Era uma homenagem que jamais imaginaria que fosse contemplado até porque acho que este tipo de reconhecimento dificilmente se faz em vida.

Nunca foi minha intenção ganhar uma competição com meu nome, mas ganhei um filho. Um sentimento de carinho e apreço me liga a este evento por anos. Guardo todos os resultados de todas as competições e, quem sabe um dia, faço um livro para contar ainda mais detalhes.

A competição cresceu, entrou para o calendário nacional e virou tradição na região.

Após alguns anos, decidi fazer algo mais pelo evento. Por estar morando nos Estados Unidos, e quase sempre impedido de ir prestigiar, passei a enviar inicialmente um Troféu Personalizado para o campeão, depois adicionei um prêmio de um cronometro de borda, afim de premiar toda a equipe.

Em 2018, me surgiu outra ideia. Nesta faixa etária, muito mais importante do que ganhar é ter uma experiência positiva em relação ao evento, a natação competitiva. Foi assim que criei a medalha de participação, um trabalho belíssimo da empresa paulista Êxito e Arte numa medalha cara, mas significativa.

A ideia era criar um modelo eterno, ou seja, a mesma medalha a ser distribuída a todos os atletas participantes do Festival Nordestinho. Algo para eles guardarem com carinho e sentirem orgulho de um dia terem participado do evento.

Para quem não sabe, mesmo com as provas de revezamento, cerca de 80% das crianças saem de uma competição como esta sem medalhas. Agora não. A medalha de participação é a mesma, para todos, muda todos os anos a cor e os dizeres das fitas.

Se você for para o Nordestinho não fique surpreso, a medalha de participação é maior, mais bonita, mais pesada (mais cara!) do que as medalhas distribuídas no pódio, mas é exatamente este o objetivo. No Nordestinho, o importante é estar lá, pois estamos abrindo uma nova etapa na carreira competitiva destes atletas em formação.

O evento também trouxe outra inovação. Em determinado momento, todos os treinadores participantes da competição, são chamados ao pódio para também serem premiados. É a única competição do Brasil onde técnicos ganham medalhas por estarem presentes.

O Nordestinho cresceu, mas segue sendo apenas uma competição. Tem conceitos, tem princípios, tem objetivos, mas é uma competição. O objetivo é formar atletas, cidadãos e desenvolver o esporte no país.

Todos que lá estarão a partir de sexta-feira na piscina do Náutico Cearense em Fortaleza, tem um compromisso de promover o esporte que tanto amamos. O Nordestinho é uma festa e de longe estarei acompanhando com carinho e atenção.

Boa competição a todos!

Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming LLC.

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