A pressão tem sido enorme, tão grande que o Comitê Olímpico Internacional decidiu convocar uma reunião de emergência com o Comitê Executivo nesta manhã de domingo. Realizado em teleconferência, a reunião teve a participação dos 17 membros, mais os representantes do Comitê Organizador Tokyo 2020 e do Govern Japonês.

Na pauta, a crise mundial do Coronavírus, a situação dos atletas sem poderem treinar, o cancelamento das seletivas e principalmente, a pressão que a entidade tem recebido nos últimos dias. A coisa, para ser mais preciso, está insustentável.

Diferente do que se pensava, quando se noticiou no início da tarde a respeito do encontro, não tivemos uma decisão concreta para o problema. Pior que isso, o COI soltou duas notas, uma para os atletas, outra para a comunidade, e em ambas a mensagem é de que ainda é “prematuro para uma decisão”, mas indica que o assunto poderá ter uma resolução em até quatro semanas.

Quatro semanas, no atual estágio da Pandemia do Coronavírus é algo totalmente fora da realidade de que esteja controlado globalmente, e o pior, segue a impetuosidade dos riscos que atletas, treinadores e suas famílias estarão se expondo durante este período. Qual foi a parte que o COI ainda não entendeu?

Atletas estão sem treinar, piscinas, quadras, campos, escolas, universidades estão fechadas. Aqueles que estão conseguindo alguma forma de treino, estão fazendo de forma improvisada, em lugares nem sempre preparados e construídos para receber o treinamento de alta performance. Profissionais e atletas deixam suas famílias, se deslocam por cidades que estão em quarentena, se expõem ao risco de contaminação e propagação do vírus.

Prorrogar a decisão, inevitável de transferência dos Jogos, é seguir expondo a saúde dos atletas. A tensão, a incerteza, tudo isso vai estar ainda pior em quatro semanas.

Tem gente vai comemorar que pela primeira vez a palavra “transferência” apareceu em algum comunicado do COI. Não se engane que isso já vem sendo conversado de forma intensa há semanas e numa resistência enorme do Comitê Organizador, Governo Japonês e corroborado pelo COI.

Nas notas divulgadas hoje, a condição de “cancelamento” dos Jogos está totalmente afastada. O que não era surpresa, afinal com todo o investimento público e privado seria irreal pensar numa simples não realização da Olimpíada.

Existem três cenários na mesa neste momento. O primeiro deles é de adiamento por alguns meses, entre 45 a 60 dias e a realização dos Jogos ainda este ano, esta talvez de menor impacto negativo na organização, mas provavelmente insuficiente pela condição global da crise. A segunda opção a mudança para a mesma data em 2021 e a terceira, na mesma data em 2022. Assim como o cancelamento está fora de questão, a disputa dos Jogos sem público também é carta fora do baralho.

Todos sabemos que a decisão é complexa. As notas até citam que existem 33 federações internacionais de esporte, 206 comitês olímpicos nacionais, mais os patrocinadores e a mídia, sem contar o próprio COI, Comitê Organizador e o Governo Japonês nesta decisão. Não é novidade!

O COI soltou uma nota que não ajudou em absolutamente ninguém neste domingo. Ou melhor, a si próprio, ganhando quatro semanas para anunciar a transferência de data até lá. Neste período, a comunidade vai continuar sofrendo, sem condições de treinamento e nesta tensão de incertezas.

Um amigo me disse que a cultura e educação japonesa é muito forte e quando uma missão é dada, ela precisa ser cumprida. A “não ação” do COI nesta crise tem respeitado este conceito. Entretanto, a crise extravasa tudo o que o mundo viveu nas últimas décadas. É uma pandemia mundial com mais de 300 mil casos e beirando as 15 mil mortes. Como disse o Albatroz, o famoso ex-nadador Michael Gross, em carta aberta ao Presidente do COI, “…atualmente temos coisas mais importantes para nos preocupar do que com a Olimpíada…”.

Não fique surpreso, talvez muito antes do que estas quatro semanas anunciadas, já teremos o adiamento dos Jogos. A pressão só fez aumentar.

Por Alexandre Pussieldi, editor chefe da Best Swimming.

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