Não estou mesmo, aliás, niguém está. Ou melhor, quem gosta de natação de alta performance, deve estar (com razão) bastante triste. Bruno Fratus não vai estar na Seletiva Olímpica na próxima semana, e por consequência, está fora dos Jogos Olímpicos de Paris, aquela que seria sua quarta Olimpíada.
Aqui preciso ser honesto e dizer que não soube disso hoje, por morarmos na mesma cidade, e volta e meia nos encontrarmos, acompanhei e acompanho todo o drama de Bruno Fratus. E não é pouca coisa. Quatro cirurgias em 18 meses, para um atleta de alto rendimento de 34 anos de idade tem um contexto gigantesco. Não foram poucas as vezes que Fratus me falava em dor, isso mesmo, dor. E não estou falando da dor da exaustão, da dor da sobrecarga, da dor do esforço, não, falo da dor do simples movimento. Não foram poucos os dias que recebi a seguinte mensagem: “não consegui nem treinar”.
O relógio não pára, nem quando a gente nada, muito menos quando as principais competições se aproximam. Aí, a dor fica maior, incremento geométrico, pois vira a dor com a ansiedade, na sequência a frustração, a tristeza. A dor de Fratus é de outros tantos atletas que muitas vezes lidam com este dilema, onde o seu material de trabalho (seu corpo) é danificado por anos de esforço e muitos treinamentos.
Tem algo muito bom no episódio de hoje. Fratus poderia ter anunciado daqui (nos Estados Unidos), não vou! Optou por ir ao Brasil, se reunir com o time do COB, com os seus patrocinadores, com o seu clube e anunciar a decisão que ele sabia que teria de tomar. Sabia que seria impossível estar na semana que vem na piscina, e mais impossível ainda estar no time de Paris.
Hoje, quando troquei mensagens com ele, entre outras coisas que conversamos, a minha principal mensagem foi “hoje você vai dormir”. E vai mesmo, pois ele do outro lado concordou.
O esporte de alto rendimento tem seus custos e seus benefícios. Até diria que os custos são bem maiores do que as benesses, pois por mais que a gente não queira, são poucos atletas olímpicos que conseguem fazer um pé de meia para uma carreira que tem início, tem meio e quase sempre, um fim prematuro.
Não chegou ao fim a carreira de Bruno, mesmo fora da Olimpíada, ele diz que quer tentar sustentar por mais algum tempo e até acho que fisicamente ele se recupera, agora falta é trazer a motivação de volta, afinal o impacto de tudo que aconteceu, não o que todo mundo conheceu hoje, mas de todos estes meses de sofrimento precisa ser reparado.
A história de Bruno Fratus é linda. Sua evolução, a medalha e a forma como foi conquistada, sua carreira, as impressionantes 100 vezes para abaixo dos 22 segundos, mais de 10 anos no ranking mundial da prova mais veloz da natação mundial. É tudo grande, é tudo expressivo.
Como também foi grande a sua dedicação. Fratus nunca foi o mais alto nas suas provas, e para isso precisou fazer uma adaptação técnica no seu nado. Esta hiperextensão de braço deixou o ombro mais vulnerável e ele pagou caro por isso. A volta das tantas cirurgias, a vontade de retomar os treinos veio outra lesão, agora no joelho. E desta vez, era tarde demais, não há tempo sobrando para Paris.
Fratus não se aposentou, mas não tê-lo na equipe de Paris é duro de se ver, de se aceitar. Diria até injusto, mas faz parte desta coisa maravilhosa chamada esporte, que tem seus benefícios e seus custos. Hoje foi o dia de pagar um deles.
Que se recupere logo, e que seus companheiros da natação brasileira façam grandes marcas na semana que vem e representem o país tão bem quanto você fez em Tóquio. Aí, a gente volta a ficar felizão. Até logo Bruno…
Coach Alex Pussieldi, editor chefe Best Swimming.